segunda-feira, setembro 25, 2006

"amor" - André Oliveira


Estarei são e elevado a vitorioso pelas mãos de um sentimento rejuvenescido, “amor”.

Tudo está bem, planos e certezas de concretização. Já sei o passo a dar, já sei a cor do futuro próximo, já sinto a textura e o cheiro do dinheiro, fresco, limpo e longitudinalmente apalpável.
Deixo para trás uma relação a dois, poderosa, em sedução e afecto, protecção e companheirismo. Deixo pai e mãe. Champanhe e amigos, uns meses “só” e só pela necessidade monetária irreversível.

A semente da criancice, o aroma da criação, depressa desvanece e morre nos braços do “vira-te”, nove anos de escola acabam em listas de espera nos centros de emprego do bairro para deficientes, doutores e imigrantes, todos na mesma slot, sem direito a exame a capacidades, físicas ou psicológicas, sem línguas ou passados esquecidos, tudo o que fizeste é o que farás.

Ao contrário, só tendo a coragem necessária para encarar “miséria” e “desespero”, o “vira-te”, está lá, mas também lá está a “criancice”, deves ignorá-la e dar aos filhos, ou deves escreve-la e pô-la em pastas onde colocas um titulo de “tristeza”, “estupidez” ou “amor”.

Por detrás disto tudo está o medo, que nos faz sofrer e reflectir a toda a hora, ou esquecer o futuro e passar vinte horas em escritórios ou quintas secas com terrenos mortos, onde só cresce a conformidade de quem lá trabalha.

Por entre tudo e todos, eu ajoelho para comer escondido debaixo da mesa, estupidificado pelo que penso, pelo que sou.

Peço aos meus, perdões e peço aos teus, paciência, pois ver-me crescer é uma demora.
Tudo isto é uma partida para o desconhecido, uma simples viagem para vós.
Um grande buraco na pasta para mim. Para além da vossa grandiosa compreensão estou eu e o meu “amor”. Está o “dinheiro” e o “ódio”.

andre oliveira- julho 2006