segunda-feira, setembro 25, 2006

Passar ao lado -andre oliveira


Estou num confuso nervoso canto de uma sala onde reincide o casamento do meu irmão mais novo. Palavras de padre dão em gasificar-se até aos tectos da igreja, ficando em baixo, ouvidos pingados por pontos altos de ecos.

Jogado á sorte, de proteínas, corantes e álcool; acabo por esquecer a missa para ingressar num banquete. Fartura de riqueza para empratar a pobreza.”mero feijão com carne, cheio de enfeite de hortelã”.
No meio de um corredor de dietas festivas, valsas de gula, por entre um mar de primos e tias, desconvidados e doutores; acabo a desaguar ali…
Pelo passeio de relva que imita o perímetro do jardim, unindo muros de insegurança a traições e desilusões reduzidamente restritas, sento-me de prato a arrotar e copo a desmaiar, ali mesmo, onde todos me vêem mas ninguém me repara.

Pedaço de chão ocupado pelo maluco, irmão do noivo, que não comunica por palavras.

Ninguém me veio falar ainda hoje.

“Estão cansados. Estou no rés. Eles têm de alongar para uma saudação formal”

-Além disso deve estar já bêbado…
Dizem eles.
No meio desta infortunada representação de mania da perseguição; belisca-me um sopro doce, meio alcoólico .

Aroma de mulher e vulnerabilidade…
Certeiro estúpido ou não! O certo foi a um palmo da minha cara espreitar uma prima…
A tal minha prima…
Companheira das idades e desejos.

À descoberta do corpo humano… Assim nos conhecemos e assim nos vamos continuar a conhecer, dado o modo provocador com que me abordou, o toque da mão é-me especialmente conhecido, não parece que tenha mudado tanto por dentro como cresceu virtuosamente por fora, visto a ter permanecido com o mesmo peso e timing de miúda particular e irritantemente intriguista nas carícias que me vai servindo.

A forma como ergo a cabeça deixa por dizer um “então?”
A forma repentina como me virou costas, deixou por dizer que não está muito bem.
Que se lixe, ela já se foi e a vontade fraca de me erguer foi anulada pelo aroma do marisco que ainda me espera no prato.


andre oliveira. só