quarta-feira, dezembro 20, 2006

Morri ?

Entre mim e o vazio estavam apenas o ódio, a raiva e a fúria que me consumiam enquanto a minha triste alma adormecia levada, arrastada e abusada pela demencia e melancolia pela minha horrível rotina criada.

Dei 3 passos para a frente e caí no nada; Era frio !

O animal sentimental que me acompanhara até ali, não me abandonara, tornando talvez tudo mais frio ainda. Uma lágrima cedeu ... Agarrou-se ao meu rosto, congelada, pegada como uma lapa que me iria acompanhar para sempre. Estava escuro ... Talvez por isso o meu medo apavorado de continuar a pisar aquele solo irregular, fofinho, replecto de obstáculos agradáveis, indecifráveis, que construiam a enorme passadeira que me iria levar a lado nenhum.

Continuava deitado no chão ...

Ganhei coragem ! Levantei-me lentamente com os joelhos a tremer como varas verdes num dia de tempestade brutal. Ergui o queixo, limpei as mãos, sacudi a roupa que me cobria o corpo e segui em frente.

Senti a tremenda sensação de perseguição impossível de uma sombra, visto a completa ausência de qualquer fonte luminosa. Acelerei o passo, com o medo entranhado desde a sola dos sapatos até às secas pontas do cabelo, queimadas pelo frio eloquente ali existente. A pressão aumentava, à minha frente apareciam inúmeras imagens pavorosas, decadentes, inexistentes ... Caminhei, caminhei, cada vez mais andei, o nada observei, para todo o lado olhei, senti coisa nenhuma, um encontrão, um tropeção, um tiro, um empurrão, caí !

O que me aconteceu ?

Não sei se morri. Ao meu lado já há luz. Quase nada consigo distinguir. Acordei ao lado duma fogueira numa enorme clareira. Sinto o meu interior queimado e destroçado... O frio transformou-se em calor. E agora ? Onde estou e para onde vou ? A lágrima congelada que me acompanhara até aqui, derreteu e lentamente escorreu ...

Não vou fugir, não me vou perder. Vou esperar por um suposto amanhecer que me interrogo se irá aparecer, o qual trará a alegria, a vontade de não me perder outra vez, a vontade de talvez não morrer outra vez, a vontade de viver.

John Pika