sexta-feira, setembro 29, 2006

Penso - John Pika


Penso e repenso
Penso novamente e volto a pensar
Penso e não penso
Penso porque estou a pensar!

É verdade! Penso porque penso!

Mas penso e penso,

Penso novamente e volto a pensar

E não penso no que irei pensar!

Espôntaneo é o pensar

Talvez por isso eu penso

Mas penso e continuo a pensar

Porque será que eu penso?

Se penso logo existo

Se existo logo penso

E penso porque existo

Penso porque penso!

Pensar, Pensar...

Viva o Pensamento!!

Ao menos podemo-nos libertar
A todo e qualquer momento!

E agora eu penso

Penso porque estou a pensar

Penso e repenso
Penso e volto a pensar!!

John Pika

Ope : Maquetes e faixas disponíveis

Estão disponíves as minhas duas maquetes para download nos seguintes links:

Headchop beats part1 - lax connection travel (2003)

http://www.sendspace.com/file/1uvi4s

Anôma - 40 minutos de violência psicológica (2006)

http://www.sendspace.com/file/fr6iml

Para mais informação sobre a minha musica e audição da mesma, podem ser consultados dois sites:

www.anoma.pt.to

www.myspace.com\2ope

Atenciosamente, Ope

Os Outros - John Pika


Um insecto rastejante,

Um mosquito a sugar sangue.

Exemplos de vida talvez indecente

Diferente de um simples boomerang!

(Vai e não volta!)


Ninguém liga a isso!


Preferem esconder-se e ignorar

O que está para muitos destinado,

Preferem ser fúteis e não acreditar

Que o seu filme já tem também um final traçado.


Personagens de papel

Duma curta-metragem onde reina o metal.

Hipocrisia, consumismo,

Ganância, muito pouco sentimentalismo.


Assim penso a vida lá fora

Naquele mundo exterior próximo do meu!

Mundo do qual me tento abstrair a toda a hora

Mundo no qual quem lá vive não sou eu!

John Pika

terça-feira, setembro 26, 2006

Vício camuflado



Foto tirada por: Miguel Simões

Modelo: Eco

segunda-feira, setembro 25, 2006

transição - andre oliveira


Lusco-fusco no quarto mais subido da casa ainda em mudanças, ainda e sempre…
Caixas de cartão acolhem biblos envolvidos em jornais, estão arrumadas aos cantos, vão sobrando pelo escuro.
No centro do quarto passa “o raio de luz”, único com permissão de visita á janela minúscula no meio tecto meio parede, a janela está presa por persianas totalmente cerradas, mas há um tal buraco que evoca um tal “raio de luz”, que vai atravessando pó, levantando fervura sobre uma cadeira velha que conservo desde as criancices…
Uma cadeira pequena com cerca de 20 cm de altura de assento em corda, tipo vergado, de várias cores, do laranja ao verde, do azul ao amarelo…
Eu aproximo-me para me encadeirar, fico de coqueras devido ao tamanho desproporcional, difícil de me sentar, difícil descansar ali, não consigo porém evitar,
Evitar uma saudade, saudade de ser criança, e conforto-me só no pensamento e silencio desconfortáveis.
Tanto aperto á minha volta, tudo apertado e nada no sitio, tudo por desembrulhar, tudo por perceber e encaixar, mas faltam “estantes”, no meio de tanta confusão, estico forçada e lentamente a perna e empurro uma pesada caixa de loiças que me intrigava na anterior posição, empurro e escorrego.
Escorrego-me pelo chão e parto a cadeira, fico esticado, em sono e tontura.
Adormeço aos abraços com a cadeira em dois cacos. Duas almas, duas pessoas, entre simbolismos, pai e mãe, afecto e protecção.

Adormeço na felicidade…

Acordo depois noutros dias, limpo e lúcido, farto e atordoado, com a persiana totalmente desperta a chocar-me os olhos.

O som nulogghhjukiiljklkjlklççl que melhor caracterizava o quarto, agora ondulava entre os meus ouvidos doridos, fartos.
Senti depressa os dedos presos, secos em sal. Confuso no meio de areia e mar sereno, o fim de um sonho ressacado só se explica pela praia…

Quais caixas? Qual cadeira?
A minha sobra é uma garrafa lá de Borba a caquejar entre as minhas mãos.

Qual afecto? Qual protecção?
Só o sangue e só os cortes…


andre oliveira

Já Foi Dito Que Uma Desgraça Nunca Vem Só... - João Afonso


As lágrimas desceram-lhe furiosamente pelo rosto enquanto ela desligou o telefone. Alguém gritou, seguidamente de uma ruidosa travagem algures abaixo da pequena janela que separava a gigantesca selva de betão do funéreo silêncio, arrasador da arrumada divisão. Ergueu-se da cama, lentamente, esfregando os olhos enquanto tenebrosas resoluções lhe assaltavam o cérebro. Não seria a primeira vez, mas desejava agora fortemente para que fosse a ultima.
Caminhou apressadamente até à cozinha onde alcançou uma estreita faca sumptuosamente estatelada na bancada, o mesmo utensílio outrora interveniente em tantas outras conclusões no distorcido passado. Fintou-a seriamente durante uns extensos segundos, enquanto acariciava a afiada lâmina; testando-a melodiosamente numa ascensão de intensivas e repetidas investidas que rapidamente rasgaram a pele, abrindo primorosos trilhos de sangue sobre o braço esquerdo. Hipnotizada sob um estranho estado de ansiedade, rodou, dirigindo-se ao quarto de banho…

João Afonso

A Moldura Da Sala... - João Afonso


O sorriso tornou-se falso, apenas se apresenta como pedaço de papel numa cor morta como que queimada pelo sol, com ausência de recordações das quais não existe tempo para pensar enquanto o fim não se apressar. Não passamos de marionetas do acaso, não somos mais do que escravos do desejo, combatentes da razão sem temer as consequências até ao dia que sofremos o castigo. Mas o sofrimento do castigo não nos basta, pois ainda nos crucificamos na cruz da razão: prova que o amor entrelaça mãos com o ódio, que o desejo os nutre, que o acaso é uma venda que compulsivamente nos assegura a ignorância a que estamos habituados. Cuspo na razão mas não chega para me encontrar, não recolhemos prazer evitando a traição. Esfaqueio o sofrimento e apenas me sujo com o acto, o prazer nasceu e morreu na tua boca.

João Afonso

Renuncia - Gonçalo Almeida

Algures em 2005

Após várias tentativas de negação, decidi admitir.

Eu tinha realmente voltado.
Durante três pequenos pedaços de tempo, eu teria provado a felicidade.

De regresso a casa, já desabituado do que é não ter pés nem mãos para a minha loucura,
abracei a dor e a morte como melhores amigos.

Atrás de mim outra vez...

Sem coragem para enfrentar o mundo, a porta do quarto fecha-se e novamente sou só eu e as minhas duvidas.

Eu precisava de nascer outra vez, mas não encontrava razões para isso.

A minha motivação sempre a retirei dos podres do mundo. Mas se desses já só sobra a minha ressaca, o espelho
denuncia-me e ataco-me a mim próprio,pela culpa de ser cada vez mais eu.

A escrever, custa-me...

Fui feliz e tornei-me normal.
Agora todo o valor que julgava outrora ter e do qual me orgulhava tornou-se ódio
e raiva por me ter deixado ficar assim.

Venho por este meio afirmar-me como cidadão comum.
Jovem sem coragem,de cabeça caída em ventos pendulares.
Cara lavada pelo desgosto de não me ter encontrado.

Acabou-se o tempo.

Não provei que consigo ser melhor que tu.Entao descanso no leito do da desgraça.
Remédios são palavras para minha doença.
Sou doente mas normal, pois perdi-me.
É sobretudo dificil manter um raciocinio limpo,nesta fase, pois tudo quanto tenho é uma pessoa que odeio.
Desrespeitei-me a mim e a minha chamada familia.
Valores, foi tudo e agora perdi-me, pois acabou-se o tempo.

Quem me mandou a mim...

Trair-me, ousar ser mais que eu, ser como tu...ignorando tudo o que nos separa.
Onde tinha eu a cabeça para pensar que poderia ser feliz...

Então porque olhas para mim...
Deixa-me ao menos morrer sozinho...
Se até a morte não pode ser só minha, entao eu n tenho nada...
Que vergonha...
Gonçalo Almeida

Passar ao lado -andre oliveira


Estou num confuso nervoso canto de uma sala onde reincide o casamento do meu irmão mais novo. Palavras de padre dão em gasificar-se até aos tectos da igreja, ficando em baixo, ouvidos pingados por pontos altos de ecos.

Jogado á sorte, de proteínas, corantes e álcool; acabo por esquecer a missa para ingressar num banquete. Fartura de riqueza para empratar a pobreza.”mero feijão com carne, cheio de enfeite de hortelã”.
No meio de um corredor de dietas festivas, valsas de gula, por entre um mar de primos e tias, desconvidados e doutores; acabo a desaguar ali…
Pelo passeio de relva que imita o perímetro do jardim, unindo muros de insegurança a traições e desilusões reduzidamente restritas, sento-me de prato a arrotar e copo a desmaiar, ali mesmo, onde todos me vêem mas ninguém me repara.

Pedaço de chão ocupado pelo maluco, irmão do noivo, que não comunica por palavras.

Ninguém me veio falar ainda hoje.

“Estão cansados. Estou no rés. Eles têm de alongar para uma saudação formal”

-Além disso deve estar já bêbado…
Dizem eles.
No meio desta infortunada representação de mania da perseguição; belisca-me um sopro doce, meio alcoólico .

Aroma de mulher e vulnerabilidade…
Certeiro estúpido ou não! O certo foi a um palmo da minha cara espreitar uma prima…
A tal minha prima…
Companheira das idades e desejos.

À descoberta do corpo humano… Assim nos conhecemos e assim nos vamos continuar a conhecer, dado o modo provocador com que me abordou, o toque da mão é-me especialmente conhecido, não parece que tenha mudado tanto por dentro como cresceu virtuosamente por fora, visto a ter permanecido com o mesmo peso e timing de miúda particular e irritantemente intriguista nas carícias que me vai servindo.

A forma como ergo a cabeça deixa por dizer um “então?”
A forma repentina como me virou costas, deixou por dizer que não está muito bem.
Que se lixe, ela já se foi e a vontade fraca de me erguer foi anulada pelo aroma do marisco que ainda me espera no prato.


andre oliveira. só

O Céu e os Anjos - Gonçalo Almeida


Algures no ano de 2004...


Nada penso quando ergo o corpo...

Quando o estendo riu-me loucamente sobre mim e o nada.

Nada importa quando as próprias regras da vida nos guiam para o nada.

Abri a porta do nada e encontrei-me, matei-me por coisa nenhuma.



Nada sei, pois caminho de cabeça para o infinito nada, dizendo te adeus...

Até nunca...

"Nada nem nunca", eu disse...

...mas tu discordaste e fizeste me reviver o céu e os anjos sobre os quais mijo todos os dias.

Por momentos exaltei-me face a essa tua inocência diabólica...

...não disse nada...
Gonçalo Almeida

"amor" - André Oliveira


Estarei são e elevado a vitorioso pelas mãos de um sentimento rejuvenescido, “amor”.

Tudo está bem, planos e certezas de concretização. Já sei o passo a dar, já sei a cor do futuro próximo, já sinto a textura e o cheiro do dinheiro, fresco, limpo e longitudinalmente apalpável.
Deixo para trás uma relação a dois, poderosa, em sedução e afecto, protecção e companheirismo. Deixo pai e mãe. Champanhe e amigos, uns meses “só” e só pela necessidade monetária irreversível.

A semente da criancice, o aroma da criação, depressa desvanece e morre nos braços do “vira-te”, nove anos de escola acabam em listas de espera nos centros de emprego do bairro para deficientes, doutores e imigrantes, todos na mesma slot, sem direito a exame a capacidades, físicas ou psicológicas, sem línguas ou passados esquecidos, tudo o que fizeste é o que farás.

Ao contrário, só tendo a coragem necessária para encarar “miséria” e “desespero”, o “vira-te”, está lá, mas também lá está a “criancice”, deves ignorá-la e dar aos filhos, ou deves escreve-la e pô-la em pastas onde colocas um titulo de “tristeza”, “estupidez” ou “amor”.

Por detrás disto tudo está o medo, que nos faz sofrer e reflectir a toda a hora, ou esquecer o futuro e passar vinte horas em escritórios ou quintas secas com terrenos mortos, onde só cresce a conformidade de quem lá trabalha.

Por entre tudo e todos, eu ajoelho para comer escondido debaixo da mesa, estupidificado pelo que penso, pelo que sou.

Peço aos meus, perdões e peço aos teus, paciência, pois ver-me crescer é uma demora.
Tudo isto é uma partida para o desconhecido, uma simples viagem para vós.
Um grande buraco na pasta para mim. Para além da vossa grandiosa compreensão estou eu e o meu “amor”. Está o “dinheiro” e o “ódio”.

andre oliveira- julho 2006

Tu e eles - Gonçalo Almeida

Estás sempre de volta...

Tu e eles...

Circuncisão...

Um momento...

Morte e depois vida...

Nem tu sabes...

Amo-te e fazer arte é engraçado.

Em bailes desmaiei, mas tive tempo.

E, num momento arranquei-te o coração...

Qual a razão?

Já chega, pois emoções são ilusões, e corações...
Mil e uma noites de azar em grandes mansões...




Gonçalo Almeida

Lua - André Oliveira

Depois de tanta biqueirada, nalgada, maus tratos.

Cheguei á lua e sentei-me tranquilo a olhar a terra, a olhar minha ignorância lá em baixo.

Sempre o mesmo triste patrão de sonhos.

Já me senti, já me queixei.

Mas agora tenho a lua. Cá em cima no desejo.

andre oliveira.